Olívia Lacerda
As palavras assim como as imagens podem ser ambíguas. Na série de pinturas intitulada Natureza Morta esse é um dos motivos da escolha do título. Fazendo referência ao tema homônimo, tão tradicional da história da arte, onde imagens domésticas de flores, frutos colhidos e objetos inanimados frequentemente aparecem. Temática que deu origem a tantas outras vertentes da pintura, por ter sido utilizada muitas vezes como um meio para o desenvolvimento do ato de pintar e suas questões formais, muito além de apenas reproduzir cenas cotidianas.
E se o tema natureza-morta retratou através de imagens domésticas e de objetos triviais do cotidiano partes da cultura e da atmosfera de tantas épocas, aqui, na contemporaneidade, nessa natureza morta literal, registra-se o tempo em que não teremos mais tempo, o ponto sem volta.
A partir do desenho e pintura de plantas secas aparecem também abstrações e pinturas de paisagem, Numa analogia entre a história da pintura e nosso contexto socioambiental.
É na literalidade da palavra, retratando folhas e flores secas, que a natureza aparece realmente morta. Fragmentos de alguma paisagem, e posteriormente de algum arranjo de mesa ou buquê de flores, carregam em si a memória daquilo que já foram e do que poderiam ter sido. São registros do tempo, com sua beleza expressa em texturas, rugas e emaranhados de ocres, marrons e tons de terra retorcidos.
Esses fragmentos também podem remeter a exuberância da paisagem que um dia compuseram, evidenciando sua finitude. Dessa forma coisas belas podem tornar-se terríveis, principalmente quando elas são tudo o que resta.
Natureza morta é uma série de pintura óleo sobre tela de diferentes dimensões, iniciada em 2023 e ainda em desenvolvimento.
























